Uma Lição da História: Revisitando o Escândalo dos Panama Papers em 2025

São 23h56 de sábado. A quietude da noite é um convite à reflexão histórica. E poucas histórias moldaram tanto a percepção moderna – e equivocada – do mundo offshore quanto o vazamento que ficou conhecido como Panama Papers. Lembro-me vividamente de 2016, da torrente de notícias que inundou o mundo. O som dos telejornais, com sua entonação grave, repetindo o nome do pequeno país centro-americano como sinônimo de um esquema global de corrupção, criou cicatrizes na reputação de todo o setor.

Hoje, quase uma década depois, é meu dever como profissional separar o fato da ficção. O erro crasso da opinião pública foi o de acreditar que a existência de uma empresa offshore era, em si, o crime. Não era. O que o escândalo dos Panama Papers revelou não foi a ilegalidade da ferramenta, mas o uso ilegal que muitos faziam dela. A grande maioria das pessoas e empresas expostas estava envolvida em evasão fiscal, ocultação de patrimônio de origem ilícita ou corrupção. O problema não estava na chave, mas na porta que se tentava arrombar com ela.

O Pecado Original: A Diferença entre a Ferramenta e seu Uso Ilegal

O escândalo nasceu não apenas do mau uso pelos clientes, but também de uma cultura de compliance frouxa por parte do escritório de advocacia no centro do vazamento. Eles operavam em um modelo de baixo custo e alto volume, muito distante da diligência rigorosa que uma firma de primeira linha exige. A textura dos documentos vazados, a desorganização, a falta de um KYC aprofundado… tudo aquilo era um retrato de um modelo de negócios que, já naquela época, estava se tornando obsoleto e perigoso. O caso dos Panama Papers foi a crônica de uma morte anunciada para um certo tipo de advocacia offshore.

O Legado dos Panama Papers: O Início da Era da Transparência Radical

O legado daquele evento foi, paradoxalmente, positivo para o setor como um todo. Ele acelerou de forma brutal a implementação de medidas de transparência global, como o CRS (Common Reporting Standard). Forçou jurisdições a apertarem suas leis de conformidade e os bancos a serem ainda mais rigorosos na aceitação de novos clientes. O mundo pós-Panama Papers é um mundo onde a tentativa de usar uma estrutura offshore para fins ilícitos se tornou exponencialmente mais difícil e arriscada. O vazamento não destruiu o mundo offshore; ele o forçou a se limpar e a se profissionalizar.

O Profissionalismo como Resposta ao Escândalo

Portanto, quando um cliente hoje me pergunta, com receio, sobre os Panama Papers, minha resposta é direta. Aquilo foi o resultado de uma combinação de clientes criminosos com provedores negligentes. O trabalho que fazemos hoje, em 2025, em um ambiente de total transparência com a Receita Federal e de diligência rigorosa com os parceiros internacionais, é o exato oposto do que aquele escândalo revelou. Ele serve como uma lição histórica permanente, um lembrete sombrio do caminho que nunca devemos trilhar.