Eu tô aqui no escritório, já passa das dez. A cidade lá fora é só um zumbido constante, misturado com o barulho da chuva fina que bate na janela. A luz amarelada do abajur corta a poeira fina que dança no ar e ilumina a pilha de processos na minha mesa. Tenho 40 anos, sou advogado, e a maior parte do meu dia é gasta decifrando a complexidade da vida alheia, traduzida em papel. Mas a jornada mais complicada que enfrentei nos últimos anos não estava em nenhum desses autos. Começou aqui mesmo, nesta cadeira, com uma busca simples no computador: o que é uma conta offshore.
Não foi por ganância. Nem por querer ser o cara do filme com um segredo nas Ilhas Cayman. Foi por um sentimento que aperta o peito de muito pai de família: um medo danado do futuro. A gente vê o cenário do país, as reviravoltas econômicas, e pensa: “Uai, e o patrimônio que eu tô ralando tanto pra construir? E o futuro dos meus filhos?”. Foi essa angústia que me levou a essa pergunta.
Meu primeiro erro? Achar que a resposta era simples. Caí de cabeça no que todo mundo faz: vídeos no YouTube, artigos de blog, os “gurus” prometendo a fórmula mágica. Parecia fácil. Um clique aqui, um documento ali, e pronto. Mas aquilo não se encaixava. Como advogado, eu sentia o cheiro de problema a quilômetros. A linguagem era sempre vaga demais, focada só nos benefícios, pulando a parte que realmente importa: a legalidade, a estrutura, o porquê de verdade. Eu estava me afogando em informações, mas continuava sem saber, na prática, o que é uma conta offshore. Era só um conceito abstrato, distante.
O desafio específico foi ignorar o barulho e colocar o meu “chapéu” de advogado pra mim mesmo. Desliguei os vídeos e comecei a fazer o que eu faço de melhor: ler. Mas não ler artigos de opinião, e sim buscar a raiz da coisa. Regulamentações internacionais, tratados para evitar dupla tributação, as normas da nossa própria Receita Federal. Foi um balde de água fria. A complexidade era muito maior do que os “especialistas” da internet faziam parecer. Foi aí que a ficha caiu. Entender o que é uma conta offshore não é sobre abrir uma conta. É sobre construir uma estrutura jurídica pessoal e familiar no exterior. É um ato de planejamento, não de especulação.
Lembro de uma conversa com minha esposa, numa manhã de domingo. O sol entrava pela janela da cozinha, fazendo um desenho bonito na mesa de madeira. O cheiro de café fresco no ar. Ela me olhou com aquela cara de quem me conhece mais do que eu mesmo e perguntou, com a voz mansa: “Amor, mas afinal, o que é uma conta offshore pra gente? Isso não é coisa de gente que tá fazendo algo errado?”. A reação dela foi o espelho do senso comum. Tive que explicar que, não, não era. Era o contrário. Era sobre fazer a coisa certa, com planejamento, dentro da lei, para proteger o que é nosso. Foi sobre trazer ela pra jornada, mostrar que não era um capricho, mas uma muralha que eu queria construir ao redor da nossa família.
No churrasco com os amigos, a reação foi mais caricata. Um deles, gente boa demais, deu um tapa nas minhas costas e brincou: “Ih, virou figurão internacional, hein? Escondendo o ouro?”. É engraçado e triste. As pessoas associam o termo a ilegalidade, a esquemas. E a culpa é de quem trata o assunto como um segredo, como um atalho. Meu valor pessoal aqui é a transparência. Se não for pra fazer às claras, declarando cada centavo, então não serve pra mim.
Minha dica prática, a que eu daria a um cliente ou a um amigo do peito, é essa: comece pelo “porquê”. Por que você quer isso? É pra proteger seu patrimônio da instabilidade? É pra diversificar investimentos? É pra ter uma reserva em moeda forte? É pra facilitar um planejamento sucessório? A resposta a essa pergunta vai definir todo o resto. O “onde” e o “como” vêm depois. Outra coisa: não faça sozinho. Mesmo eu, sendo advogado, precisei de ajuda. Conversei com especialistas em direito internacional e em contabilidade. É um time. Não é um projeto de fim de semana.
Hoje, quando sento aqui no silêncio do meu escritório, o tecido um pouco áspero do terno já cansado do dia, eu não sinto mais aquela angústia. Tenho uma clareza que não tinha antes. A resposta para “o que é uma conta offshore” se tornou algo pessoal. Pra mim, é a materialização da tranquilidade. É saber que uma parte do esforço da minha vida está segura, em uma estrutura sólida, legal e pensada. Não é uma linha num extrato bancário num lugar chique. É o sono mais tranquilo à noite. É a certeza de que, aconteça o que acontecer por aqui, a fundação que estou deixando para os meus filhos tem um pilar fincado em solo firme. E essa paz, uai… essa não tem preço.