Como Abrir Conta offshore no Exterior: Guia para Dolarizar e Declarar Certo

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Conta no exterior: a nova fronteira do ‘plano B’ para o brasileiro

 

Esqueça as cenas de cinema. Aquela imagem do sujeito de sobretudo atravessando uma praça em Zurique com uma maleta de documentos secretos para abrir uma conta numerada… isso acabou. A nova cara do dinheiro sem fronteiras é bem mais banal. Ela está na tela do smartphone de um médico em Recife, de uma programadora em Florianópolis, de um empresário em Ribeirão Preto. A conta offshore, antes um privilégio e um mistério, virou produto de prateleira.

E a prateleira, no caso, é a loja de aplicativos.

O que antes exigia uma viagem internacional, advogados caríssimos e uma boa dose de ousadia, hoje se resolve com alguns cliques e uma selfie para provar que você é você mesmo. Bancos digitais e fintechs globais viram um filão no crescente nervosismo da classe média e alta brasileira. Eles oferecem, de forma simples e em português, o que parecia inatingível: uma conta em dólar ou euro, sediada em jurisdições estáveis como Estados Unidos ou alguns países da Europa. O discurso é sedutor e direto: proteja seu patrimônio da desvalorização do real e da instabilidade política nacional. Uma espécie de apólice de seguro contra o Brasil.

O salto do gato: por que agora?

 

A conversa sobre ter “um pezinho lá fora” não é nova, claro. Mas ela costumava ser um sussurro nos clubes mais fechados de São Paulo e do Rio. O que mudou foi a escala e o perfil de quem busca essa alternativa. A combinação de uma economia que patina há anos, uma polarização política que não dá trégua e a lembrança de solavancos passados, como confiscos e desvalorizações abruptas, criou o cliente perfeito. O medo virou motor.

“Olha, eu não sou milionário. Longe disso”, me conta Ricardo, 48 anos, um consultor de TI que pediu para não ter o sobrenome publicado. Ele abriu sua primeira conta nos EUA em 2023. “A gente trabalha uma vida inteira pra construir alguma coisa, aí você vê o cenário e pensa: e se der tudo errado de novo? Não é por ganância, é… é por segurança, entende? Pra dormir um pouco mais tranquilo, sabendo que uma parte do meu esforço não vai evaporar da noite para o dia.”

O relato de Ricardo ecoa em dezenas de outros. A motivação primária raramente é buscar rendimentos mirabolantes. O objetivo é mais básico: preservar. É a dolarização do patrimônio pessoal como estratégia de sobrevivência financeira. As plataformas perceberam isso e simplificaram o processo ao extremo. Com depósitos iniciais que às vezes nem chegam a mil dólares, o acesso foi democratizado.

Mas, como tudo na vida, não existe almoço grátis.

 

Na ponta do lápis: legalidade e o Leão

 

Aqui o terreno fica mais cinzento e é onde o sonho pode virar dor de cabeça. Abrir a conta é a parte fácil. E, importante dizer, é 100% legal. Qualquer brasileiro pode ter uma conta no exterior. Ponto. O problema não está no ato, mas na consequência. O buraco é mais embaixo.

Todo e qualquer centavo enviado para fora ou mantido em uma conta offshore precisa ser devidamente informado na sua declaração anual de Imposto de Renda. E para quem tem mais de 100 mil dólares lá fora, a obrigação é dupla: também é preciso fazer a Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) ao Banco Central.

“A conta em si é perfeitamente legal. O problema é a omissão. É o sujeito achar que o dinheiro se tornou invisível para a Receita Federal”, alerta Ana Oliveira, advogada tributarista com quem conversei por telefone. “Hoje, com os acordos de troca de informações entre países, essa invisibilidade é uma ilusão. Uma hora a conta chega. E ela vem com multa e juros, pode ter certeza.”

Além do Leão, há os custos. Taxas de manutenção, de transferência, de câmbio. Colocando tudo na ponta do lápis, a proteção pode sair cara se o volume de dinheiro for baixo. Manter 5 mil dólares parados numa conta que te cobra 20 ou 30 dólares por mês pode significar uma perda considerável no fim do ano.

No fim das contas, a revolução digital trouxe o offshore para a palma da mão, transformando uma ferramenta de elite em uma opção real para mais gente. Abriu uma porta, sem dúvida. Mas também uma janela de responsabilidades que muitos, na euforia de dolarizar o patrimônio, podem simplesmente ignorar. A fronteira entre planejamento financeiro e complicação fiscal nunca foi tão tênue. E cruzá-la sem um mapa, ou melhor, sem um bom contador, continua sendo um péssimo negócio.

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